sábado, 16 de julho de 2011

Você tira o país da merda, mas não tira a merda do país



Você prefere viver sob um governo que se preocupe com o povo ou um que não se preocupe? Infelizmente, conheço pouca gente que acertaria a resposta. Um primeiro exemplo: o presidente X aumentou o salário mínimo do povo em R$ 1. A desigualdade social diminuiu o equivalente ao aumento de apenas R$ 1 no salário. Você votaria nele? Seu concorrente é o presidente Y. O presidente Y não aumentou o salário mínimo do povo em nada. Pior: as megacorporações lucraram horrores em seu governo. Bem mais do que no do presidente X.

Qual destes dois presidentes será reeleito?

A resposta é óbvia. Mesmo que R$ 1 seja um aumento muito pequeno. Vox populi, vox Dei.

Agora, qual destes dois presidentes se preocupou com o povo? Em qual destes dois presidentes você votaria? Muito cuidado com a resposta.

O que se vê, o que não se vê

Um recente artigo de Alex Castro aqui no PdH fala sobre a ascensão da antiga classe pobre. O texto atribui isso ao governo:


“Nos últimos anos, no Brasil, mais de trinta milhões de pessoas saíram da miséria — no que talvez seja a maior contribuição brasileira à civilização humana.”

Reflitamos: foi uma manobra típica do presidente tipo X ou do presidente tipo Y ali em cima?

Tivemos, nos últimos anos, o PSDB, que privatizou companhias e criou programas sociais, e o PT, que privatizou companhias e criou programas sociais. Por que diabos um só é lembrado por uma coisa, e outro só lembrado pela outra? O PT criou um mecanismo de distribuição de renda chamado Bolsa Família, que unificou diversos programas de épocas tucanas para trás. O primeiro programa do gênero foi criado pela política liberal britânica Juliet Rhys-Williams, mas ficou famoso nas mãos de Milton Friedman, papa dos Chicago Boys, a maior escola de liberalismo americana, e Nobel de Economia em 1976.

Há um princípio liberal bem claro no programa: dar dinheiro para as pessoas gastarem no que elas quiserem. A ideia não é só que as pessoas possam contar com uns trocados a mais por mês, mas sim movimentar a economia. Com mais comércio, cada indivíduo torna o mercado mais rentável para entrar na zona economicamente ativa e não depender mais do governo. É o que anda faltando ao programa do PT.

Mas o que significa ter mais R$ 30 para gastar por mês? É isso que “talvez seja a maior contribuição brasileira à civilização humana”?

Ora, não são três notas de R$ 10 que fazem uma contribuição à tal civilização humana: são as coisas que elas podem comprar. O nível de vida aumenta com mais dinheiro. Cifrões não compram felicidade, mas compram IDH. O que é uma espécie de felicidade em estatística. Mas estas notas de R$ 10 não valem a mesma coisa sempre. O pobre quer produtos e nós queremos que os pobres tenham produtos. E sabe quem mais quer que o pobre possa comprar produtos? Exatamente aquelas empresas que os fabricam, e que lucram mais com mais pessoas podendo comprá-los. Estas empresas que chamamos de “gananciosas”, “exploradoras” e “mercadológicas”, e cujo lucro sempre somos contra.


Hay que enriquecer, pero sin perder la ternura jamás!

O que fazem então as empresas? Criam produtos mais baratos ou de distribuição mais barata. A única coisa em que o governo ajudou nesse mister nas últimas décadas foi privatizando companhias que hoje prestam um serviço muito melhor – apesar de ainda mequetrefe – a preços infinitamente menores – e, claro, acabando com a inflação, que é imposto por má gestão.

O governo poderia dar R$ 1 milhão para cada pessoa pobre deste país. Sem ter produção de bens de consumo para comprar com aquele monte de papel-moeda, eles serviriam tanto quanto os jornais do “partidão” usados como substituto do escasso papel higiênico em Cuba. Os R$ 30 do Bolsa Família só funcionam porque gigantes do varejo vendem produtos cada vez mais baratos do que o mercadinho da esquina. Os R$ 30 do Bolsa Família só funcionam porque as companhias telefônicas foram privatizadas, que aumentaram os celulares no país de 5,2 milhões para 180 milhões (mais 10 milhões e teremos um por habitante).

Alguém lucrou com isso? Ótimo!

Sem o Plano Real, em três meses, o dinheiro do Bolsa Família não iria dar pra comprar chiclete. Lá no começo do século XX, 25% dos americanos tinham água corrente em casa, e só 15% tinham uma privada para chamar de sua. Foi um Bolsa Família que fez os EUA serem a maior potência econômica e quarto maior IDH do mundo? Ou foi algum empresário ganancioso e explorador que lhes permitiu cagar com conforto e segurança na própria casa?

Só 3% tinham eletricidade, 1% aquecimento. 1 em cada mil tinha um carro. Hoje, há mais pobres americanos (e brasileiros) conectados à internet do que gente conectada ao encanamento de esgoto no começo do século passado. No Brasil, milhares de pessoas trabalham hoje com telefonia e telecomunicações: do vendedor de capinha de celular até o webdesigner. Há vendedores que faturam mais do que o dono da revendedora. Quando o “governo que cuida do povo” fez algo parecido na história mundial? Foram os “mercadológicos umbiguistas” que fizeram isso, e por isso se tornaram empresários. Não foi o governo. Não foram ONGs. A vontade de lucro exige vender mais ou mais barato. É o comércio que quer e faz os pobres enriquecerem – não o Fórum Social Mundial.

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