sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Eu e meus “ismos”

Muita gente tende a concordar que se afirmar em qualquer que seja o ismo, uma conduta ruim, pois está se restringindo a varias possibilidades e reduzindo o seu campo de movimentação. Eu sinto exatamente o contrário, sinto que a cada ismo o meu conhecimento se tornou aos poucos cada vez mais erudito, no sentido real da palavra.

Foi durante a minha pré-adolescencia que entrei para o mundo do rock’n’roll e, ao contrário da maioria dos grupos de adolescente (Papalia, 2006), eu segui só. E minhas queridas amigas preferiram não restringir o seu gosto musical. E eu, ao contrario do pensamento compartilhado e pronunciado por ela, expandi muito mais a quantidade de bandas e de músicos, passei a buscar outras coisas que seguiam o meu gosto e tanto hoje quanto naquela época, conheço muito mais bandas que elas, pois além das que elas conhecem, que são a que todos conhecem, eu conheço as minhas. 

A minha segunda grande escolha, para outros, segunda grande restrição, foi o vegetarianismo, e isto na metade de minha adolescência. Depois deste, ir a uma lanchonete se tornou uma grande aventura, por que grande parte dos salgados tem carne, frango e/ou presunto. A partir dessa escolha e das dificuldades encontradas eu aprendi não apenas a cozinhar, mas também tive conhecimento de diversas plantas. Antes o meu almoço se resumia a arroz, feijão, tomate e um pedaço de algum músculo animal. Depois da minha decisão “extrema” todo dia meu almoço tem o acompanhamento diferente. Durante cerca de 17 anos, provei de quase tudo que um onívoro pode provar, agora provei muito mais.

A terceira que eu acho até que gera mais polemica que a segunda, foi o que eu mais gosto por sinal, o feminismo. Independentemente dessas palavras torna-se ou não parte de minha identidade, eu já defendia os conceitos descrito por ela, mas achava que se machismo é próprio do macho e feminismo é próprio da fêmea, etimologicamente falando, era uma oposição muito grande, um briga muito boba. Mas depois de começar a estudar Simone de Beauvoir, a figura mudou de lado. Senti-me bem, e a vontade de dar o nome para o que eu já era. Depois de me “filiar” ao feminismo e a minha independência de gênero, larguei de ser uma mulher machista, quero dizer, passei a respeitar meu gênero e me respeitar mesmo não sendo “uma mulher para casar” minha vida sexual e amorosa mudou muito e para melhor. Minha ver de ver o mundo dos gêneros se tornou muito mais interessante, aqueles termos moralistas que estavam impregnados em meu vocabulário continuam a sair. A mulher que “dava para todos” parou de ser uma vadia, se tornou uma pessoa livre. E até os termos vadia, piranha, periguete (...), só saem da minha boca para falar de minhas amigas.

Além dessas já ditas venho a mim como efeito teia a bissexualidade e o ateísmo. Esses “ismos” só abriram meu horizonte, estou muito satisfeito com a sensação que eles me proporcionam, embora enfrente muitas dificuldades, mesmo assim, me sinto muito bem com minhas decisões. Não deixei de ouvir musica, de me alimentar bem, de me relacionar intelectualmente ou sexualmente com homens. Faço tudo que sempre fiz, a diferença é que sinto que faço bem melhor. 
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PAPALIA, D. E.; OLDS, S, W.: O Desenvolvimento Humano, Editora Artmed, 2006.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Como decidir se um filme é ou não feminista?


No começo do ano falei do Bechdel Test, um teste que não é bem um teste criado por uma cartunista americana lésbica para determinar se um filme vale a pena ser visto por ela. Para que ela se disponha a sair de casa e ir ao cinema, um filme deve cumprir três regrinhas básicas: 1) ter no mínimo duas personagensfemininas, 2) que falem uma com a outra, 3) sobre algo que não seja um homem. Só isso, mais nada! Pense em quantos filmes não têm pelo menos dois personagens masculinos (com nomes) que falem um com o outro sobre algum outro assunto que não seja mulher. Mas, no caso de personagens femininas, tem um monte que não passa no Bechdel Test, incluindo aí grandes filmes, como Caçadores da Arca Perdida,Trainspotting, Curtindo a Vida Adoidado, Pulp Fiction, O Poderoso Chefão, etc.


O Bechdel Test nos faz pensar em como é absurdo que a forma de arte e entretenimento que atrai mais gente na atualidade seja tão excludente com as mulheres, e como a indústria que é Hollywood praticamente só tem homens na direção, produção e roteiro de uma obra, o que deve influenciar a falta de representatividade feminina. Mas o teste é muito limitado. Ele não determina se um filme é bom (ok, critério totalmente subjetivo), ou se a representação das mulheres é positiva, ou se o filme é feminista. Por exemplo, em quase toda comédia romântica a protagonista tem uma melhor amiga (às vezes substituída por um BFF gay), e elas conversam sobre coisas que não sejam um homem, como... ahn, roupas, maquiagem e forma física. Comédias românticas passam no Bechdel Test, mas passam pra quê?

Pense Sorrindo [42]


Ateísmo para iniciantes

Momento Concernente [11]


Imagine: uma menina com cabelos de Brasil


Arte e educação, é assim que se ensina. 
Um ótimo curta metragem diz muito com muito pouco. Se minhas aulas de geografia no ensino médio ou fundamental tivesse algo assim eu seria alguém mais feliz como os estudos. 

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Minha filha e o ensino religioso

Introdução do editor: Há algumas situações que ocorrem no Brasil que nos fazem questionar até que ponto nosso Estado está realmente separado da religião, no caso, da religião cristã. Um tema pelo qual eu, particularmente, tenho grande preocupação é oensino religioso em escolas públicas, principalmente quando este é utilizado unica e exclusivamente para o proselitismo de uma determinada denominação, geralmente a Católica, contando inclusive com a anuência e o estímulo do poder público.

Entram no caldo absurdo não só a atuação dos professores, mas também os materiais didáticos utilizados, que em conjunto podem levar à doutrinação compulsória de crianças, ao desenvolvimento de ideias preconceituosas e, até mesmo, ameaçar a liberdade de crença (e de descrença).

O texto abaixo, enviado pelo leitor Reginaldo Medina, ilustra esse tipo de situação com um relato bem pessoal, que pode ser mais comum do que pensamos.

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Este é o primeiro ano de minha filha na escola e faz dois anos que ela espera com muita ansiedade deixar o parquinho para finalmente seguir os passos do irmão numa escola de “verdade”, como ela entende.

Minha menina tem seis anos e desde os quatro é alfabetizada, tanto que hoje assiste a filmes legendados. Finalmente em fevereiro deste ano ela realizou com muito entusiasmo o desejo de vestir o novo uniforme e sentar numa carteira escolar.

Eu já imaginava que tanta expectativa iria acabar um pouco por frustrá-la. Por isso conversei algumas vezes avisando que era melhor ter calma, pois o começo é sempre devagar. O que me espantou foi que em apenas duas semanas ela, além de desanimar, nem mais queria ir à escola. Foi uma mudança radical.

Crianças mudam mesmo de ânimo facilmente, por isso que é uma tarefa muito difícil para o EDUCADOR manter o interesse dos alunos. Por outro lado é frustrante para os pais em uma reunião com a professora perceberem que ela nem ao menos se expressa em um português adequado a uma alfabetizadora. Meus dois filhos estudam em escola pública, ela numa municipal e meu filho de onze numa estadual. Fui a reuniões com algumas professoras, em várias dessas ocasiões tive a decepção de observar o quanto se expressavam com inadequações de concordância ou vocabulário. Isso é assustador e fica claro que é vital ajudar na educação escolar dos filhos. Interessante que o material didático é bom, muitos vindos de escolas particulares famosas. O que leva a crer que os problemas são, principalmente, de recursos humanos.

De fato, minha filha desanimou e andou dificultando para ir à escola, mas a classe está tão lenta que ainda não saíram do básico de alfabetização. O mesmo não se dá quando o assunto é religião.

Desde o início das aulas, ao eu questionar o que ela aprendeu no dia, vinha com algum conto da bíblia. Não somente isso, mas também desenhos bíblicos, vídeos bíblicos, joguinhos bíblicos e, claro, oração na classe todo santo dia. Se fosse para ser catecismo ou escola dominical, certamente os trabalhos estariam andando que é uma beleza, mas ensino secular mesmo é uma tristeza. Pelo visto é mais fácil fazer proselitismo religioso do que dar as bases do ensino secular e do futuro bem estar social para uma criança.

Isso me pareceu receita para se fazer analfabetos funcionais e também explicaria muito do Brasil atual.

Resolvi que era melhor primeiro telefonar na Secretaria de Educação aqui em Araçoiaba da Serra, interior de São Paulo. Perguntei se eles tinham a grade de matérias para a primeira série. Após gentilmente procurarem e não encontrarem, perguntaram-me qual era meu interesse e expus a situação que aqui relatei. Expliquei que eu e minha esposa somos ateus e queremos uma educação laica a nossos filhos enquanto crianças. Tentaram desconversar sobre a laicidade da escola pública, orientando-me a conversar com a professora, sem, no entanto, quererem se envolver.

Não adianta, embora seja responsabilidade da Secretaria de Educação ver o que esta ocorrendo em suas escolas, ela se omite ao encarar a religião. É possível afinal que a funcionária possa ser até da mesma congregação da professora. Em cidades pequenas a separação entre igreja e estado é praticamente inexistente. Por isso mesmo não fui falar com a professora e correr o risco de trazer um estigma a minha filha por ter pais ateus. É um risco alto demais para correr, não quero ver minha filha sofrendo bullying por conta da descrença dos pais.

Resolvi então preparar meus filhos para entenderem melhor o mundo cristão em que vivem. Em cidade pequena é bom ter certa cautela com esse tema. Explico aos meus filhos como religiosos são sensíveis ao tocar em suas crenças e como isso pode ser perigoso. De certa forma em ambiente tão religioso como o daqui, é bom viver com os cuidados de um herege na idade média.

Tenho então tenho lido um pouco da bíblia aos meus filhos explicando o pensamento judaico-cristão e as bases de algumas crenças. Acabou sendo interessante apresentar os contos da Bíblia sem o peso do dogma religioso e abrindo espaço para as opiniões deles.

Deus não sobrevive ao olhar critico e sincero das crianças, basta elas estarem livres para perguntar.

Numa coisa agora concordo com os religiosos: A bíblia pode ser boa para as crianças.

Fonte: Bule Voador

Pense Sorrindo [41]


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