quarta-feira, 8 de junho de 2011

SlutWalk - Protesto ‘marcha das vagabundas’ chega ao Brasil neste sábado

Comentário de policial no Canadá inicou movimento contra machismo.
Convocado pelo Facebook, evento em SP tem mais de 5 mil adesões.


Mulheres participam do movimento ‘SlutWalks’ no Canadá (Foto: AP)
Um protesto que começou no Canadá e vem ganhando as ruas de vários países do mundo chega ao Brasil neste fim de semana. Conhecido como ‘SlutWalk’, a primeira marcha das vagabundas (ou das vadias, como vem sendo traduzido) deve acontecer na Avenida Paulista, neste sábado (4), a partir de 14h.

O movimento ‘SlutWalk’ começou no mês passado em Toronto, no Canadá, quando alunos de uma universidade resolveram protestar depois que um policial sugeriu que as estudantes do sexo feminino deveriam evitar se vestir como “vagabundas” para não serem vítimas de abuso sexual ou estupro.

“Quando ouvimos pela primeira vez sobre a Polícia de Toronto rotular as mulheres e pessoas com maior risco de abuso sexual de "vagabundas", pensamos em fazer barulho e exigir mais do que um pedido de desculpas. Temos o direito constitucional de liberdade de expressão e decidimos usá-lo”, diz o site do grupo (www.slutwalktorontol.com).

A primeira marcha reuniu cerca de 3 mil participantes vestidas de forma provocativa ou comportada para chamar a atenção para a cultura de responsabilizar as vítimas de estupro. Foi o estopim para que outros eventos semelhantes se espalhassem por várias cidades dos Estados Unidos e Europa.

Partipantes da marcha das vagabundas de Paris, realizada no último dia 22, usam barbas e seguram cartazes onde se lê: 'Somos todas camareiras', em referência ao caso do ex-diretor do FMI, Dominique Strauss-Kahn, preso acusado de abusar sexualmente de uma camareira (Foto: Stephane Mahe / Reuters)

No Brasil, onde foi convocado por meio do Facebook, o evento já tinha a adesão de mais de 5 mil pessoas até a tarde desta quinta (2). “Fiquei até meio assustada com a quantidade de pessoas [que aderiram]. Se vai ter número maior ou menor, não importa, o importante é fazer o barulho que a gente quer fazer”, diz uma das organizadoras da marcha, a publicitária Madô Lopes, 29.

Segundo ela, que disse ter compartilhado com amigos a necessidade de fazer um evento semelhante no Brasil, a vestimenta é livre para participar do evento, em que homens também são bem vindos.

“Cada um vai vestido como quer. Tem garotas que vão vestidas como vagabundas, tem quem goste de saia justa, tem quem não goste. Não é um baile de fantasia. Mas quem quiser ir ludicamente vestido, pode ir. Todo mundo vai estar lá pela mesma causa que é o respeito à mulher”, afirma.

Já no calendário de eventos do site oficial, a marcha paulistana ocorre no mesmo dia das de Los Angeles e Chicago (nos EUA), Edmonton (Canadá), Edinburgo (Escócia), Estocolmo (Suécia), Amsterdã (Holanda), Copenhagen (Dinamarca) e Camberra (Austrália).

Belo Horizonte
Com inspiração na marcha paulistana, um segundo evento brasileiro já está programado para o próximo dia 18, em Belo Horizonte. Com menos adesões até agora –os participantes no Facebook somavam mais de 800 até esta quinta- a marcha mineira vem ganhando o apoio de grupos feministas e de questões de gênero e até da associação dos profissionais do sexo local.

“Muitas pessoas reagiram ao convite perguntando: ‘Por que me convidaram para esse evento? Eu não sou vagabunda!’ O propósito é discutir um assunto ainda polêmico. Hoje quase não se discute as questões de gênero, é como se tivessem sido resolvidas. A forma como algumas pessoas têm reagido já é indício de como a questão é delicada”, diz a atriz e diretora de teatro Débora Vieira, 29, uma das organizadoras.
Convocação para a marcha das vagabundas BH, marcada para o próximo dia 18 (Foto: Reprodução)




Articulada com grupos feministas, ela lembra o episódio da estudante Geisy Arruda, que foi expulsa de uma universidade de São Paulo após ter sido hostilizada por alunos por usar um vestido curto, como exemplo do atraso do país nas discussões de gênero.

“Quando aconteceu o episódio da Geizy Arruda, a reação na mídia de fora foi bem curiosa. ‘Como o país das bundas e do carnaval reage com tamanha agressividade a uma roupa curta?’ Quando é a própria mulher que toma atitude de se exibir, botar roupa curta ou falar de sexo, é chamada de vadia, de vagabunda. Belo Horizonte não está longe disso. Aqui, enfrentamos o mesmo problema da maioria das cidades brasileiras, em que as mulheres têm que ser educadas para evitar que o estupro aconteça.”


Já nesta semana, na quinta-feira (9), haverá um reunião para discutir pontos polêmicos sobre o assunto, inclusive o nome do evento. “Tem gente que afirma que o nome é pejorativo e está com medo de ir com medo por causa disso”, explica a antropóloga Júlia Zamboni, também da organização da edição brasiliense da marcha.

Lia afirma que o nome Marcha das Mulheres Livres seria até mais adequado para o contexto brasileiro, mas não chamaria tanta atenção. “Sendo vadias ou não, a gente quer ter o direito sobre o próprio corpo. O significado da marcha é maior”, afirma. A reunião será às 18h, em frente ao Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Brasília.

A violência doméstica também deve entrar na pauta da reunião. “A gente tem uma outra causa que é muito forte, que á violência doméstica. É algo que já é naturalizado no Brasil, como se fosse algo comum. Não saberia dizer se somos mais machistas do que a média, mas o país está muito atrás na questão da igualdade de gênero”, avalia Júlia.

A concentração da Marcha das Vadias será às 12h, em frente ao shopping Conjunto Nacional. As manifestantes pretendem passar pela Rodoviária do Plano Piloto e pela Feira da Torre antes de ir para o Parque da Cidade, onde devem se encontrar com a Marcha pela Liberdade, organizada pelo movimento LGBT e por grupos que defendem a legalização do comércio de maconha e derivados.

Fonte: G1

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